quarta-feira, 10 de março de 2010

6x07 "Dr. Linus"

Ok, com um título como esse, era óbvio que o episódio seria, no mínimo, bem melhor do que o da semana passada. Mas "Dr. Linus" foi além, bem além, e conseguiu voltar ao tom que "The Substitute" tinha estabelecido. Será coincidência que um tenha sido Locke-cêntrico e o outro Ben-cêntrico? Claro que não.

Escrito por Edward Kitsis e Adam Horowitz, a dupla de roteiristas que, depois dos Darlton, mais escreveu episódios na série (e que, descobri ainda agora, assina o roteiro de Tron Legacy, consequentemente subindo meu interesse no filme em aproximadamente 2000%), o roteiro desse episódio é tão distante de "Sundown" em termos de qualidade que, se tivesse assistido aos dois episódios seguidos, acho que eu teria um choque anafilático. Claro que é covardia comparar o trabalho de gente que basicamente construiu as personagens do zero com o trabalho de gente que tá chegando agora, mas isso é só uma justificativa lógica para reforçar minha reivindicação de que não entreguem mais roteiros nas mãos de novatos nessa temporada.

Além disso, finalmente deram ao Michael Emerson um episódio inteiro para ele fazer o que faz melhor, e o cara não decepciona. E digo mais, pela primeira vez desde que resolveram dar vazão ao lado "bonzinho maltratado" de Ben eu realmente acho que fizeram a coisa direito. Ok mostrá-lo como vítima das circunstâncias, mas simplesmente ignorar o lado maquiavélico e faminto por poder que sempre o definiu era desperdiçar dolorosamente um dos personagens mais cativantes da série.

O episódio mostra que, na realidade de 2004, Ben é essencialmente o oposto do antigo líder dos Outros que amamos odiar. É arrepiante vê-lo contido, reprimido, vivendo segundo as regras da sociedade. Toda a fúria assustadora do Ben da ilha dormente no fundo dos olhos do professor de História Européia, prontos para explodir. E mesmo quando Arzt (aliás, que dupla hein? Parando para pensar eles realmente têm muito a ver) diz que ele é "um matador," Linus contém um sorriso, contém a fagulha, como alguém que passou a vida inteira se reprimindo e não sabe fazer o contrário.

No entanto, o ponto comum dos dois Benjamin é o mesmo - o amor paternal por Alex. E é emocionante ver que, ao menos em 2004, esse amor superou sua sede de poder. E deu uma enorme credibildade ao ódio que ele nutre por Jacob na linha de tempo principal. Não fosse sua fé cega de que Jacob o protegeria de qualquer mal, ele talvez tivesse cedido às ameaças de Keamy e poupado a vida de Alex. Ele não é tão desnaturado assim. Ele só foi abandonado pelo objeto de sua fé.

Outro que compartilha do mesmo sentimento é Richard. Pela primeira vez, Nestor Carbonell teve uma cena pra si, e não desperdiçou. E, muito para minha felicidade, Matthew Fox correspondeu à altura e me fez lembrar do Jack de "Through The Looking Glass," satisfazendo minha reclamação feita na resenha de "Lighthouse" sobre terem esquecido daquele Jack atormentado e tornado ele um figurante de luxo, cujo maior sinal de instabilidade emocional havia sido dizer para Hurley "estou quebrado" com uma cara de paisagem que não convence ninguém.
Ali no Black Rock, quando ele se senta diante de Richard em um ato de fé cega naquilo que acabara de ouvir (que os candidatos tocados por Jacob não podem morrer até cumprir um propósito), eu voltei instantaneamente a gostar de Jack. Espero de coração que ele se mantenha nesse tom pelo resto da temporada.

As outras atuações do episódio também estão muito boas. São poucas as ocasiões em que eu gosto do Miles, mas nesse episódio ele foi excelente. E inclusive deram um downgrade sério nas habilidades dele, com essa história dele só conseguir ler os últimos pensamentos dos cadáveres à hora da morte. Acho mais elegante e condizente com o teor da série do que o Miles que batia papo com fantasmas (até porque, essa agora é a função do Hurley).

E, mais uma reclamação sobre "Lighthouse" atendida, as autoreferências nesse episódio estão na mosca. Locke dizendo que apoiaria Ben se ele quisesse ser diretor; Miles "encontrando" os diamantes de Paulo e Niki; Richard estranhando as correntes que amarraram o pai de Locke quando ele foi morto por Sawyer, todas essas cenas estavam muito bem contextualizadas e nenhuma foi óbvia ou descarada. Ao invés de nostalgia, elas evocaram uma genuína sensação de peças se encaixando.

No conjunto, "Dr. Linus" foi um episódio perfeito. Emocionante no desenvolvimento de seu personagem-tema, intrigante nas suas revelações mitológicas, cativante em seu ritmo, e de quebra ainda terminou com duas cenas de grife clássicas da série: um reencontro emocionante ao som da trilha maravilhosa de Michael Giacchino, e um gancho de fazer pular da cadeira e gritar sonoros palavrões.

No geral, a sensação é de que o sétimo episódio da derradeira temporada de Lost não fica devendo em nada aos grandes momentos da série. Lost ainda é Lost, e se tudo correr bem, será até o final!

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