sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

5x03 "Jughead"

Por mais que já tenha uma temporada inteira que isso começou a acontecer, às vezes acho que ainda não me acostumei com a nova objetividade narrativa de Lost. Difícil me lembrar de algum episódio que tenha tido tantos baldes chutados quanto o fenomenal Jughead. Não é à toa que esse está sendo considerado um dos melhores episódios da série até agora por muita gente, eu inclusive.

Mas o episódio não é nem de longe a soma de suas revelações. Mesmo tendo uma trama WTF como força motriz (a não ser que essa bomba vá ter alguma importância para o enredo no futuro, me pareceu meramente uma desculpa para unir as cenas dos losties nos anos 50), o texto do episódio está muito bem amarrado, as atuações estão na mosca, e o episódio se centra em três dos meus personagens favoritos - Desmond, Faraday, e Locke. Aliás, diga-se de passagem, o Jeremy Davies teve a chance de ouro de virar um protagonista clássico, e não desperdiçou. Pela primeira vez deixaram o cara atuar tudo o que sabe. Terminei de assistir com a nítida impressão que, assim como o Herny Ian Cusick e o Michael Emerson antes dele, o Jeremy conquistou status de personagem-chave por merecimento.
O episódio já começa emocionante, mostrando o nascimento do pequeno Charlie Widmore Hume (tocante homenagem, aliás) durante os 3 anos de exílio do casal Des e Penny, e a preocupação de Penny quando Desmond resolve entrar na Inglaterra, território de Charles Widmore, para cumprir a designação trazida a ele por uma memória durante o sono. Esse conflito já era esperado e era muito fácil ter descambado para o melodrama batido, mas Jughead tem a sensibilidade de evitar confrontos óbvios, e de não jogar nos ombros do Desmond toda a responsabilidade pelo que virá a seguir. Quando sua busca se revela mais complexa e arriscada do que inicialmente se pensava, Penny mais uma vez demonstra seu amor e aceita embarcar na roubada com o marido, levando o filho junto. Yay para o amor verdadeiro! \o/

Na ilha, no passado, temos pela primeira vez uma linha de enredo envolvendo exclusivamente os novatos da temporada passada, e fica claro que Dan é o personagem central deste núcleo. O episódio é repleto de insinuações que Faraday já visitou essa época em outra ocasião, antes - e por "antes," aqui, quero dizer mais cedo na vida do personagem, porque agora que estamos pulando através do tempo, a única referência possível é a vivência de cada um dos viajantes temporais. A cena em que Locke conta a Richard o que o próprio lhe disse no futuro brinca com esse conceito. Enquanto para o tempo de vida de Richard, receber a visita de Locke nos anos 50 aconteceu antes de ele curar seu ferimento na época atual, para Locke, o contato com Richard aconteceu antes de ele voltar para 54 e instruír o "idoso" Richard a encontrá-lo criança no orfanato e fazer o teste dos objetos. Temos assim a primeira situação ovo-galinha de Lost. Espero que não hajam muitas outras. Existe um limite para a quantidade de paradoxos temporais que o telespectador padrão consegue engolir sem passar a desacreditar da história toda (e ele se chama "Exterminador do Futuro").

E ao mesmo tempo em que vemos Faraday tentando salvar a vida de Charlotte (snif), vemos pela primeira vez o quanto Locke abraçou a idéia de ser o novo líder dos Outros, quando se recusa a matar um zé ruela porque ele é "um de seu povo." O que só ajuda a deixar o queixo do telespectador no chão quando, mais tarde no episódio, temos a verdadeira bomba H do episódio: o moleque marrento e assassino é ninguém menos do que... Charles Widmore em pessoa.

Diga-se de passagem, o sorriso do Terry O'Quinn e resposta dele "Nada não. Muito prazer." está para mim no top 10 momentos de Lost de todas as temporadas.

Outro momento digno de nota é o Widmore do presente baixando a cabeça para o Desmond, temendo que essa súbita exposição fosse significar a deixa que Ben estava esperando para localizar e matar sua filha. Isso mostra que Charles Widmore e Benjamin Linus têm muito mais em comum do que se imaginava: ambos saíram da ilha a contragosto (presume-se que pelas mesmas vias, ou seja, que Widmore tenha girado a roda de burro em algum momento do passado e, nas palavras de Linus, não possa mais voltar) e ambos possuem uma paixão pela ilha que só é rivalizada pelo amor às suas respectivas filhas. Supondo que a Sra. Hawking seja realmente a mãe de Faraday, será que Widmore imagina que enviou sua amada Penny para a boca do lobo?

Além disso, o episódio também tem vários momentos ótimos. Juliet dizendo que Richards "sempre esteve ali." Sawyer e Miles servindo de alívio cômico para seus respectivos grupos, mas com tiradas mais inteligentes do que escrachadas. A desconfiada Ellie (que eu jurava que era a Rousseau jovem quando apareceu, quase gritei) demonstrando uma fragilidade que não combina com os Others contemporâneos de Ben Linus, o próprio Alpert falando dos soldados americanos mortos como quem pede desculpas, e confiando cegamente no que Locke diz - sinal de que os Others estavam acuados e desorientados, temendo a iminente descoberta e invasão de sua ilha nativa por uma América que esquadrinhava o Pacífico em busca de japoneses.

Aliás, duas coisas que ficaram na minha cabeça depois de assistir Jughead. Primeiro, é possível que Alpert tenha de fato baseado 50 anos de estratégia de sobrevivência apenas guiado pela visita do Locke do futuro. Por isso ele ficou revoltado quando o jovem Locke não reconheceu sua bússola, e - imaginem só - talvez por isso ele tenha criado Ben para ser o líder dos Others, achando que talvez ele fosse o homem que o visitou em 54 sob a alcunha de "John Locke." Isso seria uma reviravolta épica de enredo!

Outra coisa: Charles Widmore era um Other nativo? Ele nasceu na ilha? Se sim, isso significa que Penny (e o pequeno Charlie) têm "sangue other"? Quais as consequências disso para a família Widmore Hume? Será que Charlie e Aaron irão disputar a ilha (e o coração de Ji Yieon) no futuro?? Ok, essa foi forçada, mas as possibilidades são imensas!

Enfim. Só pelo tamanho do post dá pra percerber que Jughead é um episódio nada menos do que clássico na série. E ainda é apenas o terceiro da quinta temporada! Bring it on!!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

5x01 "Because You Left" / 5x02 "The Lie"

E eis que, meses depois, Lost está de volta pegando de onde parou. Apesar do balde de água fria que é uma entressafra de temporadas, essa dupla reestréia conseguiu reintroduzir toda a carga emocional e toda a ação que o finale da 4ª temporada estabeleceram. O que inclusive foi eseencial para me reanimar a sequer comentar, depois do fiasco do release do primeiro episódio, que foi sair 6:30 da manhã só devido a problemas técnicos na transmissão de satélite da ABC =/

Mas nem só de ação se faz Lost. Uma das minhas maiores precupações depois das reviravoltas finais do ano passado era como o roteiro lidaria com a abordagem escancarada de assuntos que até então eram apenas sugeridos. Confesso que rolou um inevitável desconforto com a exposição nada sutil do Hallifax logo no começo ("energia que, se colhida da forma correta, pode nos dar o poder de viajar no tempo!!1!1" Fiquei esperando ele erguer o braço bom e gritar YATA!) mas a jogada de mestre foi fazer a ilha ficar com soluços temporais, ao mesmo tempo banalizando e renovando o conceito de viagem temporal no contexto de Lost. Outra exposição grosseira - mas essencialmente necessária para botar um tampão preventivo em furos de roteiro - foi Faraday estabelecendo que o tempo em Lost é linear e que ninguém pode mudar nada, dando assim muito mais valor à capacidade milagrosa que Desmond tem de romper as barreiras do espaço-tempo e alterar o curso da história. Go Des!!

O novo formato da série é bem o que eu imaginei que seria: alternando o presente fora da ilha com 3 anos no passado, imediatamente após os O-6 escaparem da Ilha. O problema é que, pelo visto, eles raramente estarão de fato 3 anos atrás, visto que ficam pulando de época em época, e portanto aquela legendinha introdutória que diz "3 anos atrás" vai perder o sentido muito rápido.

E apesar de não termos mais a centralização oficial de cada episódio em um personaem (fazendo-o estrelar um flashback/flashforward), implicitamente ainda existe a figura do personagem central. No primeiro episódio foi, sem dúvida, o Faraday, que confirmou de vez seu posto de "novato favorito" no meu conceito. Acho que meu apreço por ele vem em grande parte do fato de ele, ao contrário de outros personagens na história da série que sabiam de fato do que se trata a Ilha, compartilhar a informação com o público. Além disso, ele tem aquela curiosidade quase inconsequente dos cientistas malucos que realmente encontra reconhecimento em mim, então podem me vestir de Team Faraday pelo resto da série e começar a shiparem ele e a Charlotte, porque pelo visto além de resolver os enigmas da ilha ele agora tem que salvar a vida da amada que começou a sofrer os terríveis efeitos colaterais da viagem no tempo =/

Já o segundo episódio foi todo do Hurley. E vamos combinar, se na época das 3 primeiras temporadas a frase "episódio do Hurley" era recebida com um gemido coletivo e um rolar de olhos, hoje em dia são pra mim os mais esperados. Impossível não se emocionar com o sofrimento do cara, que mesmo tendo passado por tanta merda continua incapaz de ter sentimentos ruins ou de ir contra sua natureza pacífica e amistosa. O peso de ter enfrentado a maldição dos números, o manicômio (por duas vezes), a perseguição da polícia e as visões de gente morta - muitas dessas dores para proteger uma mentira que ele nem queria contar, pra começo de conversa - vem à tona quando a mãe o confronta e ele desaba. Quase desabei junto. E o sorriso de pura alegria quando ele percebe que deu uma rasteira no maior manipulador da história das séries televisivas, simplesmente porque o gênio Ben Linus é incapaz de conceber alguém tão desprendido e disposto ao autosacrifício quanto Hugo - isso não tem preço, mesmo. São momentos assim que fazem de Lost o que a série se tornou nesses 4 anos e tanto de existência.

No mais, detalhes: adorei a aparição da Analulu (Michelle Rodriguez cada vez mais macho, pqp), apesar do texto da dupla Kitsis/Horowitz no 5x02 ter tido alguns momentos de total falta de inspiração, como o "Libby said hi." Mas enfim, escrever é que nem dar partida em carro no inverno, às vezes demora pra pegar =P Confio nos dois e sei que esse tipo de delivery óbvio deve desaparecer ao longo da temporada.

Também achei fenomenal o detalhe do Richard Alpert ter respondido indiretamente qual dos objetos o pequeno Locke devia ter escolhido no dia do teste - a bússola. E ter dado essa bússola para o Locke velho, criando assim uma forma rápida e prática de ser convencido no passado quando um suposto viajante temporal aparecer para avisá-lo que dali há muitos anos ele precisa ir fazer um curativo que já foi feito =P Confuso? Nem achei =D

A aparição da Ms. Hawking foi inesperada mas muito boa. E agora já está bem evidente que a equipe dos Others que ficava alocada fora da ilha foi toda recrutada pelo Ben para dar cabo de seu plano de retorno. Mais uma prova que Linus não dá ponto sem nó. E eu não sei quanto a vocês, mas fiquei muito intrigado com a resposta vaga que ele dá ao Jack quando perguntado se Locke está mesmo morto.

E, por fim, depois de 3 temporadas citando o nome do infeliz em entrevistas, histórias paralelas e cenas de fundo, finalmente deram tempo de cena ao tal do Neil Frogurt... apenas para reeditar o saudoso Dr. Arzt. O que eu achei excelente, afinal todos se lembram de Paulo e Nikki, certo? Além disso o Neil cometeu o mesmo pecado mortal que o Arzt: começou a falar merda pros protagonistas antes de se certificar que teria um flashback. Os deuses da Ilha são impiedosos com coadjuvantes chiliquentos! =P

Enfim, um excelente retorno para uma excelente série que é Lost. E semana que vem vou ganhar o 5x03 de aniversário, espero que o episódio chute bundas!! \o/

Estamos de volta, garotada!!!