quarta-feira, 19 de maio de 2010

6x16 "What They Died For"

E aqui estamos, a menos de uma semana do fim. E eu arrisco dizer que não há um fã de Lost, por mais desanimado que esteja com a série, que não tenha ficado ansioso pelo desfecho depois desse episódio. Os produtores são espertos. "Across the Sea" foi o arremate na mitologia misteriosa criada pela série, e foi um episódio polarizador, para dizer o mínimo, uma vez que as explicações, propositadamente vagas nos pontos em que não se fazia extremamente necessário ser específico, deixaram muitos telespectadores confusos ou decepcionados com o tom adotado. Isso já era esperado, e praticamente inevitável (Aos que se sentem traídos por terem acreditado nas declarações antigas dos produtores, apregoadas cegamente pelos zelotes de Lost - zeLostes? -, só posso dizer que, a 5 anos do fim da série, era a única coisa que eles podim fazer, renegar qualquer teoria levantada pelos fãs. Ou alguém preferia que eles tivessem dito "ok, era isso mesmo, mas por favor assistam o resto da série fingindo que não sabem?" E eu entendo perfeitamente a decepção dessa gente, porque eu mesmo a tive no season finale da segunda temporada, quando o abuso de boa vontade com a pseudo-ciência de Lost ultrapassou os meus limites. Se hoje eu assisto e gosto da série é porque eu me reaproximei dela com outras expectativas totalmente, no fim da terceira temporada.)

Então, o melhor a fazer, foi lançar a bomba antes do fim, deixar a poeira assentar, e se concentrar em contar o resto da história, que - na minha humilde opinião de fã reconquistado - é bem mais importante do que a mitologia genérica. "What They Died For" é o episódio responsável pelo controle de danos do episódio anterior e por direcionar novamente o foco dos fãs divididos apara a história sendo contada. E faz isso muito bem.

Antes de qualquer coisa, Lost é uma série sobre pessoas. 6 anos de exibição depois, se alguém ainda não tinha notado que o foco do programa é nas reações dos personagens ao ambiente que os cerca, e não no ambiente em si, estava assistindo por masoquismo. Muita gente diz que Lost foi uma série "revolucionária" meramente porque ela virou o sucesso que virou, mas sem a mais vaga idéia de qual revolução o programa tenha promovido. Mas um dos elementos chave de Lost, que faz a série ser o que é, é justamente não criar situações comuns em obras de ficção, em que o telespectador é onisciente. Não existe a cena inicial na mansão do vilão em que ele explica, logo de cara, tudo o que vai fazer pelo resto da projeção. Não existe a vontade de gritar para um protagonista "seu burro, ele está atrás da porta!" O que faz Lost ser Lost é a idéia de que os telespectadores e os protagonistas estão no mesmo barco. Vislumbres além do que os personagens principais enxergam são raros, dosados, e muitas vezes são antecipações curtas de revelações que os personagens terão, quase sempre no mesmo episódio. Até o vislumbre final, tão aguardado, da origem das entidades que controlam a Ilha, foi repassado aos candidatos pelo própio Jacob em "What They Died For," de forma sucinta. Não somos semideuses que observam o tabuleiro. Somos peças, como Jack, Locke & cia.

E aí é que está a magia da série: nos colocando em pé de igualdade com os personagens, sentimos na pele as diferenças entre as nossas reações, e as reações deles, pessoas imperfeitas e solitárias, únicas, e que justamente por serem únicas, eram candidatas a um posto único, o de guardião da Luz da Vida em uma ilha que fica em algum lugar entre lá e cá, por um tempo infinito para padrões humanos. Aquele grito tão repetido por nós, telespectadores, ao longo da série - "PQP, por que fulano não fez X e Y?" - é a verdadeira revolução de Lost. É um recurso muito sofisticado e inédito em séries de TV veiculadas em massa. É o que faz o telespectador se apaixonar pelas personagens, mesmo estas sendo tão distantes do ideal do protagonista padrão. Eles são estranhos, dúbios, emotivos demais, cruéis, fracassados, mas são nossos amigos, porque estivemos nessa ilha com eles e vivemos os mesmos momentos "WTF?!" junto deles, e, assim como eles, somos parte do grupo.

Pois bem. Sob esse aspecto, "What They Died For" é um episódio basicamente perfeito. Reúne quase todos os elementos icônicos de Lost, nos traz performances maravilhosas de Terry O'Quinn e Michael Emerson (ambos representando dois personagens absurdamente opostos cada um), aparições inesperadas de Mira Furlan (de banho tomado!) e Michelle Rodriguez, um embate nostálgico entre o Jack da ciência e o Locke da fé na realidade paralela, a conversão final do Jack em homem de fé na realidade principal (e um comentário perfeito de Sawyer sobre seu Complexo de Deus), e finalmente mostra de forma satisfatória a missão de Desmond'04 para "acordar" cada um dos passageiros do vôo 815, com a ajuda do já convertido Hurley. Aliás, se eu tenho uma reclamação a fazer sobre o episódio 6x16, é justamente que não deviam ter esperado até o penúltimo episódio para engrenar o enredo do Desmond em 2004, que foi a única coisa que eu acertei nos meus chutes sobre a sexta temporada dados na época do fim da quinta, e é uma história que eu realmente gostaria muito de assistir, por mais do que 3 episódios.

E agora é isso. Esperar mais 4 dias e torcer muito para que o ritmo e a tônica do Series Finale seja igual aos desse 6x16. É claro que, sendo o fim da série, não haverá nada a perder, nenhuma audiência para recuperar no ano seguinte, e consequentemente os produtores e o diretor vão se sentir no direito de extravasar qualquer recurso que eles tenham guardado para nós por esses longos 6 anos. Mas vou dar um voto de confiança ao trio Lindelof/Cuse/Bender, acho que eles fizeram por merecer.

O duro é aguentar a saudade depois.

5 comentários:

  1. "O duro é aguentar a saudade depois." Realmente.

    Mas, vambora!

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  2. Perfeita leitura do episódio e principalmente da série, Rafa!

    Abração!

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  3. AMO A SÉRIE, MAS ISSO NÃO MIM IMPEDE DE RECONHECER QUE MUITAS EXPLICAÇÕES AINDA PRECISAM SER DADAS. COMO A DHARMA CHEGOU NA ILHA? AFINAL UMA TEMPORADA INTEIRA FOI DEDICADA À ELA. POR QUE WALT APARECIA PRA SHENON E JHON LOCK? SERIA O MONSTRO? SE JACOB ERA IMORTAL PORQUE MORREU? O QUE SÃO AS CINZAS QUE PROTEJEM AS PESSOAS DO MONSTRO? JACOB É TÃO RUÍM ASSIM QUE MANDOU BEN MATAR RUSSEAU E SUA FILHA AINDA NÊNE? ISSO EU NÃO ENTENDO ATÉ HOJE. NA VERDADE JACOB NÃO PASSA DE UM MATADOR EM SÉRIE, JÁ QUE ATRAIU MILHARES DE PESSOAS NA ILHA, SÓ PARA DISPUTÁ-LAS COM O SEM NOME(ALIÁS NÃO SEI PORQUE NÃO DERAM UM NOME A ELE) DE QUEM ERA A VOZ OUVIDA POR JHON LOCK NA CABANA? (HELP, LEMBRAM-SE?) PORQUE JACOB MORAVA DEBAIXO DAQUELA ESTÁTUA. BEN REALMENTE VOLTOU PRA SER JULGADO PELO MONSTRO? ELE É UMA ESPÉCIE DE JUÍZ? O QUE ACONTECEU NO TEMPLO QUANDO JOGARAM SAID NA ÁGUA TENTADO CURÁ-LO? E O MAIS IMPORTANTE COMO SE DÁ A INFECÇÃO?(SE NÃO RESPONDEREM ESSA VOU FICAR P. DA VIDA) AFINAL CLAIRE TAMBÉM FICOU INFECTADA. SERIA UM FALTA DE DESRESPEITO COM OS FÃS NÃO RESPONDEREM OS ENIGMAS MAIS INTRIGANTES COMO ESSES.
    COMO ALGUÉM DISSE ANTES: NOSSA OBSESSÃO CHEGOU AO FIM. APESAR DAS FALHAS DE LOST, NÃO CONSIGO COMPARÁ-LA COM NADA AINDA PRODUZIDO NA TV.
    SIMPLESMENTE ORIGINAL E MUITO ENVOLVENTE.
    É UMA PENA QUE CHEGOU AO FIM.

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  4. Aee Wind, ótimas análises. Por não ser um louco desvairado por Lost, posso dizer que precisei de uma certa ajuda de blogueiros e "analistas" pra largar as expectativas. Lendo o Dude, o Carlão e vc me ajudaram, hehehe. Agora é esperar.

    Desculpa Tayane, mas tu só pode tá de brincadeira, hahaha. Estamos esperando o último episódio e você ainda está perguntando se a fumaça julga alguém?? Você realmente viu os 16 episódios da 6a temporada?? Eu nem sou um viciado em Lost e consigo responder a todas as suas perguntas. Lembre-se, perguntas só levarão a mais perguntas.

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  5. O texto está maravilhoso. Identifiquei-me com ele de cara. Tomei a liberdade de postar trechos dele no meu blog, com os devidos créditos: http://leo-dissertacoes.blogspot.com/

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