É inevitável que o comentário sobre esse Season Finale se transforme num comentário sobre a temporada em si, mas vou tentar separar as análises para não me atropelar.
Antes de mais nada, a quinta temporada em si não foi tão boa quanto seu início prometia. Tanto é que eu nem tive muita vontade de comentar os episódios depois de "Life and Death of Jeremy Bentham," "Dead is Dead" à parte. Agora que a temporada já terminou e pode ser analisada como um todo, fica claro que os produtores não souberam como conduzir a história dos Losties na década de 70. Estabeleceram uma premissa ótima (a de Sawyer e cia. terem encontrado um lar entre os membros da Iniciativa Dharma), mas depois do retorno dos O6 parece que tudo descambou. Muitas bolas boas foram levantadas mas ninguém cortou. Em momento algum me senti envolvido pelo plot ridículo do Little Linus, Sayid tirou férias da série (o Naveen Andrews sempre esnoba tanto Lost que eu começo a querer que ele não volte para a sexta temporada, pelo menos não se for pra ficar atuando por telefone desse jeito), Jack ficou completamente ridículo, Kate foi totalmente apática (pra alguém que voltou pra procurar a Claire, ela fez algo nesse sentido o impressionante número de ZERO vezes desde que chegou). Sawyer e Juliet eram a única coisa que despertava meu interesse, mas só eles e o alívio cômico de Hurley e Miles não foram suficientes pra vencer o tédio que dominou o núcleo Dharmaville. As coisas começaram a melhorar com a volta do Faraday, mas já tava tão perto do fim que eu me forcei a esperar antes de voltar a comentar, pra não acabar mordendo minha língua.
Por outro lado, a história que REALMENTE empolgava, a ressurreição de Locke e a virada de mesa dele sobre Ben, foi administrada a conta-gotas. Acho que não custava nada ter balanceado as coisas, botado um pouco mais de enrolation no núcleo Ben-Locke e enxugado mais o núcleo Dharma. Não é como se eles não soubessem dar ritmo a uma temporada, a quarta foi excelente do início ao fim, claramente planejada. Essa quinta, nem tanto. Mas claro que ainda está anos-luz à frente da sofrível terceira temporada, que isso fique bem claro.
Agora. Lost tem uma característica muito engraçada, que eu sempre comento: os finales às vezes são tão diametralmente opostos, em termos de qualidade, ao resto da temporada que eu me sinto tentado a dar um shift neles e considerá-los parte da temporada seguinte. Não o da primeira, claro, que foi absolutamente linear e condizente com o resto, e nem o da quarta (segunda melhor temporada na minha opinião, lá em cima com a primeira), que foi o desfecho de um arco narrativo magistralmente conduzido. Mas os finales da segunda e da terceira temporadas são muito chocantemente diferentes do resto. O da segunda temporada foi uma decepção enorme para mim. Conseugiu praticamente destruir o que tinha potencial para ser a melhor temporada de todas. E por isso eu costumo fingir que ele é na verdade o season premiere da terceira temporada, que é aquele lixo que todos conhecemos. PORÉM, entretanto contudo, o season finale da terceira temporada é o MELHOR. FINALE. DA. HISTÓRIA. Não falo só de Lost, mas de todas as séries que eu assisto, e provavelmente de todas as que eu nunca assisti também. A terceira temporada foi pegando fôlego da metade em diante, mas nada que justificasse um episódio tão bom. Por essa razão, eu considero o finale da 3a como o season premiere da 4a temporada.
Pois bem. Ainda não sei como será a sexta (e última) temporada de Lost, mas já estou totalmente inclinado a considerar o 5x16/17 como parte dela. E não apenas porque é um episódio que, a exemplo do finale da 3a temporada, modifica COMPLETAMENTE o assunto da série - e de um modo positivo, acrescento! - como também porque a cena inicial dele é melhor do que qualquer cena incial de temporada até hoje. A cena entre Jacob e - posso explanar? Ninguém ainda pescou? - seu irmão Esaú sentados na praia, observando a chegada do Black Rock... aquele diálogo sobre Esaú odiar Jacob e precisar desesperadamente matá-lo, a noção implícita de que ele não pode fazê-lo diretamente (reforçada pela menção ao loophole, literalmente uma brecha na lei, nas cenas finais), todas as peças se encaixando. "Deus ama você como amou Jacó." COMO ninguém cantou essa bola naquela época distante de 2007? Como os produtores conseguiram fazer esse "a-há!" mesmo com a série sendo constantemente analisada e esmiuçada por milhões de cérebros ao redor do mundo?
Eu digo como. Um truque sujo. Eles convenientemente nunca insinuaram, nem de muito leve, que havia outra entidade na ilha além de Jacob. A guerra milenar entre eles dois foi referenciada de forma que TODOS pensassem ser uma guerra entre Widmore e Linus, que agora percebemos serem apenas capangas disputando o middle management. É um truque que eu sempre soube que iria rolar - na verdade, TORCIA para rolar, porque essa é a única forma de fazer uma revelação chocante em um mistério que todo mundo já revirou e re-revirou, definir uma peça do quebra-cabeças que, retirada do lugar, inviabiliza totalmente o encaixe das outras, e só entregá-la na última cena. Damon, Carlton, desculpem por eu ter duvidado de vocês. Vocês sabem o que fazem, no fim das contas!
De fato, "The Incident" é o primeiro episódio em muito - MUITO - tempo, em que eu senti que as revelações não foram inventadas na última reunião de roteiristas. A quarta temporada havia recuperado minha fé em Lost como obra de entretenimento, mas foi esse episódio que recuperou também minha fé na série como um mistério coeso. Tudo isso havia ido por água abaixo no fim da segunda temporada. Agora, eu estou até teorizando - alguém me interne! E sim, eu tenho plena consciência que os mesmos elementos que me fizeram pirar nesse season finale vão fazer muita gente abandonar a série, com o mesmo ódio que eu senti no fim da segunda temporada. Mas todo mundo sabia que a revelação final do que está em jogo alienaria muita gente, porque cada um tem a sua história própria na cabeça. Eu, por exemplo, reviro os olhos à idéia de uma força magnética que parte avião (de alumínio) no meio sem engolir todas as outras coisas de metal num raio de kilometros antes... mas com todo bom nerd de quadrinhos (coisa que Damon Lindelof também é, e esse finale é a prova disso), eu tenho por lei que releitura de mitologia do velho testamento, muito como molho Shoyu, deixa TUDO mais gostoso =P Então me perdoem os que ainda tinham esperança de uma explicação lógica e científica. Chorarei uma única lágrima de solidarieadade a vocês, mas vou continuar achando Lost ainda mais foda por ter seguido o caminho que seguiu.
1180 palavras digitadas já, e eu ainda não saí da primeira cena! Mas tudo bem, porque essa cena é praticamente todo um episódio - talvez toda uma série - contida em si, a análise do resto não vai ser tão esforçada, prometo.
Existem três histórias sendo contadas em "The Incident." A primeira, a mais importante e chocante, é sobre Esaú e Jacó. A história de Esaú fica subentendida, cabe ao telespectador revisitar cada aparição, cada fantasma, cada manipulação dos últimos 5 anos e descobrir o que era picuinha Ben/Charles e o que era parte do esquema mirabolante de Esaú para escapar de sua prisão de cinzas (tô chutando aqui, ok, pode não ser isso mas eu tenho muita fé que era ele preso na cabana, ele que pediu socorro ao Locke, ele que encarnou o Walt fantasma e levou o careca a sacrificar seu corpo para tomar seu lugar). Mas aí temos Jacob, fazendo sua lista. Jacob escolhendo, a dedo, quem seriam seus salvadores, sua apólice de seguros. As pessoas que iriam ao passado reverter toda a zica e impedir que seu irmão desse cabo de sua vida. Há quanto tempo eles jogam essa partida de xadrez com os mortais? Se tem algo que eu acredito que será o tema central da sexta temporada, é esse embate eterno, quais são suas regras, como Esaú as burlou, e como Jacob escapou de rodar. E, principalmente, o que ele vai fazer sobre o assunto.
Aliás, no fim das contas Christian não era mesmo Jacob. Christian, como todos os outros cadáveres da ilha, era Esaú fazendo seu mindfuck cuidadosamente calculado, em todos os others, losties E telespectadores. Isso é o quão bom foi a reviravolta guardada por Darlton para esse finale - horas depois, tendo dormido e acordado sobre o assunto, ainda ficam surgindo estalos na minha cabeça conforme o quadro geral vai sendo montado.
A segunda história, o desfecho do plano de Esaú, é assustadora simplesmente porque, pela primeira vez na vida, eu tive MUITA PENA de Benjamin Linus. Ele pode ser o maior e melhor manipulador filho da puta desse mundo, mas ali, sob a sombra da estátua, ele está sendo um joguete patético de duas entidades muito, muito superiores a ele. Ele é uma ferramenta. E o ódio dele, ao final, é mais do que justificado. Claro, ele poderia ter parado 5 minutos para avaliar a loucura de tudo aquilo, mas ele já estava quebrado. A "ressurreição" de Locke, a Alex, as feridas cruelmente reabertas... Benjamin Linus é apenas humano. E, como um bom humano, ele seguiu o destino traçado para ele, mesmo sem saber as intenções de quem o traçou. Ben é a verdadeira vítima de Lost.
Já a terceira história, de como a função do retorno dos O6 era, na verdade, para salvar a vida de Jacob, foi a que menos me convneceu. Não que eu não ache maravilhosa a forma como ele foi tocando cada um (mais o Sawyer), em diferentes partes da vida, para que tudo convergisse naquele momento crucial. O que eu não engoli mesmo foi como Jack Shepherd, cirurgião juramentado, com uma tendência irreversível de querer proteger e consertar tudo e todos, resolve explodir um dispositivo termonuclear de um impulso porque... tá com dor de corno?! Agora, subitamente, a falta que ele sente da Kate justifica um possível genocídio porque um físico maluco disse que TALVEZ isso apague o que eles viveram juntos (ou senão, pelo menos morre todo mundo e acaba a cornitude)? É como "Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças," com tiros e explosões nucleares. E sem a sensibilidade - ou o sentido - do filme, claro. Pra piorar, eis que logo a Juliet resolve reforçar essa idéia porque teve uma crise de baixa auto-estima ao ver Sawyer e Kate brincando de dupla dinâmica. Jules, pelamor! Meus pais também são separados e eu nunca quis matar / apagar a existência de ninguém porque a relação não deu certo, vai? Menos, bem menos!
Mas enfim. Reconheço que o quadrângulo amoroso pode ter sido também alimentado pelas manipulações de Jacob para garantir que todos estivessem na merda e sem nada a perder quando chegasse a hora de transformar o plano maluco em realidade. E o quão esquisito é o fato de a única voz da razão em tudo isso ser... Sawyer?!
No fim das contas, muito do que eu estou conjecturando aqui é somente isso, uma conjectura. Os produtores e roteiristas quiseram deliberadamente nos deixar por um ano sem a MENOR idéia do que vai acontecer. Mas eles deram pistas. A melhor, pra mim, é a dada nos créditos iniciais, em que a autoria do roteiro é dada separadamente para a primeira e segunda partes, sendo a parte 1 escrita por "Damon Lindelof e Carlton Cuse" e a parte 2 por "Carlton Cuse e Damon Lindelof." Piada sem sentido, ou uma indicação de que as coisas agora estão no reverso, e que tudo será efetivamente desfeito? Fico com a segunda opção, até porque Darlton já tinham avisado que a sexta temporada "destruiria tudo que a quinta construiu." Mas ainda tem 16 episódios pela frente, e caso o plano de Jacob tenha dado certo e seu assassinato tenha sido apagado, o que restaria para contar? Um ou dois episódios de recapitulações, flashbacks e explicações minuciosas pros telespectadores mais "lentos" dariam conta do recado.
Eu tenho um palpite - um chute, mesmo - de que Desmond, que esteve tão sumido nessa temporada, será uma peça chave da sexta temporada. Talvez ele seja a única pessoa que se lembra do que aconteceu nessa linha de tempo, e vá ser ele o responsável por caçar os Losties e contá-los dessa vida alternativa que eles levaram. Agora, por que ele faria isso, eu não sei. Confesso que estou no escuro quanto ao gancho motivador da última temporada. Talvez Jacob queira virar o jogo e se livrar de Esaú para sempre? Ou talvez ainda falte alguma coisa para que o destino daquela ilha, como ele divisou, seja cumprido. Não sei mesmo. Estou tão no escuro quanto cada um de vocês. E sempre tem a possibilidade de nos sacanearem, a bomba ter explodido e não alterado nada, todo mundo que morreu ter morrido mesmo, e agora Esaú ter uma agenda maligna a cumprir sem a sombra do irmão mais novo. Eu pessoalmente acho essa opção muito pós-apocalíptica, mas se for assim, beleza também. Estou disposto a aceitar o que os produtores quiserem me oferecer. Confio neles, outra vez. Quem fez o que eles fizeram nesse episódio, certamente tem bala na agulha para finalizar a saga.
Mas continuo secretamente torcendo para que a primeira cena da sexta temporada seja o olho de Juliet, pelada no meio do mato. Ei, aconteceu com o Desmond da última vez que deu um clarão na Cisne. É apenas justo =P
FIM! Arre. Quase uma tese de mestrado. Pelo menos vou ter 1 ano inteiro pra recarregar as baterias =P
sexta-feira, 15 de maio de 2009
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